sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Medo urbano provoca isolamento em condomínios

 Para cada cinco habitantes, existe uma câmera de segurança no Distrito Federal. A cada minuto, são gastos R$ 15,3 mil em forças policiais, seguros privados, equipamentos de vigilância e socorros a feridos na região. A insegurança consome R$ 8 bilhões por ano, o que corresponde a 5% do PIB do Distrito Federal- percentual 2,5 vezes maior que nos EUA, por exemplo.

Estes são dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), divulgados em 2012, e demonstram como as pessoas estão lidando com a violência e o medo urbanos. A prof. Mestre Landejaine Maccori, diretora de Educação do Sindicato dos Condomínios Residenciais e Comerciais do Distrito Federal (Sindicondomínio/DF), recentemente lançou tese sobre o tema, após pesquisa de campo com mais de 285 entrevistados no Distrito Federal em três tipos de condomínios: apartamentos no Plano Piloto, horizontais de casas e Condomínios- clube.

Para a pesquisadora, o caráter difuso da violência, que perpassa por todo o espaço urbano, proporciona a consolidação de novas práticas de defesa, entre elas, a opção por novos habitats fechados. Os condomínios são, ultimamente, os tipos de moradia mais procurados pelas pessoas, e o medo tem um peso real em sua escolhas.

“Essa é uma tendência existente não só no Brasil, mas no mundo. Cada vez mais as pessoas se sentem compelidas a buscar a segurança privatizada, não só em função do descrédito na segurança pública, mas também em função das ideologias que são apregoadas pelo mercado do capital imobiliário e da segurança privada”, conclui a diretora.

Maccori destaca que a insegurança faz as pessoas procurarem por condomínios que possam oferecer o máximo de recursos que incentivem uma vida comunitária. Por outro lado, a oferta de estabelecimentos comerciais e toda estrutura em um condomínio, não garante que os moradores estejam abertos a se relacionarem entre vizinhos.

“Mediante o perigo, surge o desejo de distanciamento do outro, e a perda de espaços para diálogos em situações de conflitos. Modificam as relações entre as pessoas, e a espacialidade urbana. Quebra-se o pacto social. Nesse contexto a palavra de ordem é “proteção”, explica.

Para evitar que o ambiente seja tensionado pelos condôminos, cabe ao síndico buscar capacitações e desenvolvimento de técnicas em respeito ao enfrentamento de conflitos sociais. “A predisposição para o diálogo ficou diminuída, observa-se que não há busca de mediação pacifica de conflitos. As decisões não são integrativas, onde todos saem ganhando, onde haja um acordo, um pacto social”, aponta a professora.

Na visão dela, o isolamento, provocado pelo medo urbano, estimula a criação de desavenças, impactando a pessoa na capacidade de lidar com a sociedade e de aceitar comportamentos diferentes do seu. “Nesse contexto de fuga da vida pública, o indivíduo perde a verdadeira noção da gênese do conflito, que é justamente a ausência da relação social”, relaciona Maccori.

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