quarta-feira, 22 de maio de 2013

Faroeste Caboclo

Uma espécie de western pop moderno ambientado em uma Brasília da década de 1970/80, governada por militares, “protegida” por uma polícia corrupta, tendo como pano de fundo o início do crime organizado e do tráfico de drogas na jovem metrópole. Assim, o filme Faroeste Caboclo, dirigido por René Sampaio, transformou a tragédia escrita por Renato Russo em uma linda história de amor, que desafia classes sociais.

A produção, que tem lançamento nacional previsto para o dia 30 de maio e exibição marcada para o encerramento do Brazilian Film Festival, em Nova Iorque teve sua pré-estreia na terça-feira (14).

Com distribuição da Europa Filmes, Faroeste Caboclo é protagonizado por Fabrício Boliveira, que faz uma interpretação brilhante de João de Santo Cristo, Felipe Abib (Jeremias) e Isis Valverde, no papel de Maria Lúcia. De Brasília, alguns atores conhecidos na cidade, como Andrade Júnior. Faroeste Caboclo também foi o último trabalho do ator Marcos Paulo, que faleceu no fim de 2012. Giuliano Manfredini, filho de Renato Russo, também faz uma aparição relâmpago na produção e pode ser visto em cinco cenas.

O longa-metragem não se atém à letra gravada pela Legião Urbana, mas promete agradar ao público em seus 105 minutos. “Não quis fazer exatamente igual. A música é alegórica”, explicou René Sampaio, durante a coletiva de imprensa, realizada após a exibição exclusiva para jornalistas. “Acho que o filme foi fiel ao espírito da música”, acrescentou ele.

Para os fãs da canção, pode ser que fique faltando algo. Algumas partes até importantes da letra, como a que João nega colocar uma bomba em um estabelecimento civil e bota para fora de casa um general do exército, não estão lá. “É uma arte bebendo de outra arte. Precisa ter a liberdade que a arte permite para alimentar essa história com outros fatos. Senão, vira um clipe”, avaliou Fabricício Boliveira. Porém, segundo a produtora, Bianca de Felippes, a cena foi gravada e estará disponível nos extras do DVD.

Na opinião de Boliveira, não existiram dificuldades para criar a personagem. Ele, que, assim como Santo Cristo, é baiano, porém de Salvador, conheceu a banda Legião Urbana na adolescência, a partir de uma namorada, tinha a música Faroeste Caboclo como uma das preferidas. Durante o trabalho de preparação, Fabrício trabalhou com uma equipe de fãs para “tentar beber um pouco daquele desejo”, como definiu.

A maior parte das sequências foi gravada na Capital Federal. Já a infância de Santo Cristo teve o Povoado Pau-Ferro, no município baiano Souto Soares, como cenário. Algumas cenas adicionais foram feitas no Pólo de Cinema de Paulínia. O orçamento foi de R$ 6 milhões e contou com incentivos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal.

Para recriar a Ceilândia da década de 1970, foi montada uma mini-cidade cenográfica no Jardim ABC, município goiano localizado no Entorno do DF. Considerado um dos locais mais violentos no Brasil, o ABC proporcionou as ruas empoeiradas e o clima faroeste para o duelo final do filme. Durante as gravações, relatou Boliveira, ocorreu um incidente um tanto mórbido. A equipe captou um assassinato real, o que todos impressionados. “É uma terra de sem-lei”, disse Isis Valverde.

Muito bem executado, o filme tem na fotografia um grande trunfo. A direção de arte também reproduziu com êxito uma Brasília ainda adolescente, que começava o mostrar sua cultura. Aliás, a cidade também é personagem na trama imenso. O famoso céu do Planalto Central e o vazio imponente da arquitetura de Niemeyer estão presentes com suas exuberantes belezas plásticas em diversas sequências do filme. A ambientação da época também é impecável, Fuscas e Brasílias circulam por vias largas e ainda sem tantos carros.

A trilha sonora é assinada por Philippe Seabra, líder da banda Plebe Rude, que era contemporânea da Legião Urbana, e traz características do western, mas com uma pegada mais moderna. O repertório não inclui a música tema até o fim da trama, mas passa por muitos hits da época, apreciados pela Turma da Colina, como Ever Fallen in Love, de The Buzzcocks, e Dancing With Myself, escrita por Billy Idol e Tony James. O vocalista também foi consultor de outro longa-metragem sobre a banda brasiliense, Somos Tão Jovens, e disse ter trabalhado um distanciamento para não prejudicar, nem comprometer, nenhuma das produções.

Texto: Bárbara de Alencar/Fonte: Site Candango!

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